O Morcego

Vejo um morcego sobre a tumba aberta
Tem sede e bebe essa miséria humana…
Deleita-se no fel que a carne emana
E ri da nossa fé vaga e deserta

Revoa sob a lua e sempre alerta
Espreita a nossa imensa dor profana
Mostrando todo o escárnio à gente ufana
Que vive sem saber que a morte é certa.

Quem sabe venha um dia, pouco a pouco,
Lembrar-me ao invadir minha janela
De que na minha vida, insano e louco,

Perceba a vil verdade que há nela:
Feliz é o morcego, o verme rouco,
De quem a própria morte cuida e vela

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