Memórias de meu Avô

Não sei bem o motivo, mas atualmente – e mais que o normal – tenho pensado em meu avô, que morreu já há bastante tempo, talvez mais que dez anos. Ele foi um homem bruto, forte, de pele bem morena e olhos verdes cor de esmeralda que pareciam faiscar sob a luz certa. O senhor […]

Tanatologia

Embora já não seja surpresa para ninguém, ontem morreu o escritor que todos conheciam e acho-me no direito, mesmo diante das circunstâncias, em anunciar o que vi, já que passei com ele os seus últimos momentos e estive do seu lado no seu último suspiro. O meu dever era estar com ele; para mim, era […]

Os Campos

Na carne humana brotam-se as feridasFeito uma erva escura florescendoEm geometria e fome apodrecendoE alimentando-se das nossas vidas. Fazem surgir nas pústulas fendidasOs córregos que vão umedecendoDe fluidos sangüíneos e trazendoMiríades de germens homicidas. Depois, tremendo pobre e fracamente,Os campos totalmente defloradosPela infecta e pútrida semente Germinarão os pesarosos fardosE deixarão colher-se unicamenteOs féretros e […]

À Minha Mãe

Que amor existe nessas mãos doentesQue afaga, humilha, manipula e enlaça,Jogando-nos, coitados, na desgraçaDas mágoas deste mundo dos viventes? Depois que o útero, em dores contundentes,Num vômito de alívio nos rechaçaTransforma-nos a todos na carcaçaQue os bichos comerão futuramente. E logo, nesse hiato que nos resteEntre a vida e uma morte anunciadaDe dores, de tormentos […]

Meu Passamento

Não veio hoje esta manhã tão puraDe um céu azul e alegremente claro;Em seu lugar, um vendaval amaroAcompanhado de uma névoa escura. E no meu peito, tal qual a sepultura,O coração ao funeral preparoDe tudo aquilo que me for mais caroNum cemitério de hedionda agrura Pois ao morrer, num último gemido,Na escuridão funérea do meu […]

O Morcego

Vejo um morcego sobre a tumba abertaTem sede e bebe essa miséria humana…Deleita-se no fel que a carne emanaE ri da nossa fé vaga e deserta Revoa sob a lua e sempre alertaEspreita a nossa imensa dor profanaMostrando todo o escárnio à gente ufanaQue vive sem saber que a morte é certa. Quem sabe venha […]