O Monstro

Depois da festa, quando a noite veio
Cobrindo os aposentos de penumbra,
O monstro a rir-me, como quem vislumbra
Aproximou-se trêmulo de anseio.

“Não sabias, amigo, que eu viria,
Porquanto esta presença faz-te espanto?”
Ouvia eu, apavorado a um canto
Enquanto a criatura me inquiria.

E sem dizer mais nada, simplesmente,
A salivar, a horrenda criatura
De um golpe, para minha desventura,
Partiu-me os intestinos friamente.

E enquanto eu, já pálido e tremente
Em preces e lamentos me entregava
O monstro sem escrúpulos ficava
A devorar-me as tripas ferozmente.

Depois, por uma breve comoção,
Falou-me em meio às lágrimas malfeitas:
“Não venho deste inferno que rejeitas,
Mas venho do teu próprio coração!”

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