Os Campos

Na carne humana brotam-se as feridasFeito uma erva escura florescendoEm geometria e fome apodrecendoE alimentando-se das nossas vidas. Fazem surgir nas pústulas fendidasOs córregos que vão umedecendoDe fluidos sangüíneos e trazendoMiríades de germens homicidas. Depois, tremendo pobre e fracamente,Os campos totalmente defloradosPela infecta e pútrida semente Germinarão os pesarosos fardosE deixarão colher-se unicamenteOs féretros e […]

À Minha Mãe

Que amor existe nessas mãos doentesQue afaga, humilha, manipula e enlaça,Jogando-nos, coitados, na desgraçaDas mágoas deste mundo dos viventes? Depois que o útero, em dores contundentes,Num vômito de alívio nos rechaçaTransforma-nos a todos na carcaçaQue os bichos comerão futuramente. E logo, nesse hiato que nos resteEntre a vida e uma morte anunciadaDe dores, de tormentos […]

Meu Passamento

Não veio hoje esta manhã tão puraDe um céu azul e alegremente claro;Em seu lugar, um vendaval amaroAcompanhado de uma névoa escura. E no meu peito, tal qual a sepultura,O coração ao funeral preparoDe tudo aquilo que me for mais caroNum cemitério de hedionda agrura Pois ao morrer, num último gemido,Na escuridão funérea do meu […]

O Morcego

Vejo um morcego sobre a tumba abertaTem sede e bebe essa miséria humana…Deleita-se no fel que a carne emanaE ri da nossa fé vaga e deserta Revoa sob a lua e sempre alertaEspreita a nossa imensa dor profanaMostrando todo o escárnio à gente ufanaQue vive sem saber que a morte é certa. Quem sabe venha […]

A Janela

Passava eu sempre em frente àquela casa Sem notá-la do meu tristonho bonde; Escondida entre a folhagem vasta E uma velha e ressequida fonte. Mas eis que um dia, enquanto eu dormitava Sentado ao bonde, a chacoalhar nos trilhos, Reparo numa jovem que me olhava Debruçada à janela, nos caixilhos. Lançava-me, assim, u’olhar estranho – […]